Posso combinar a minha microdose de psilocibina com cafeína?

Para muitos pessoas, a cafeína faz parte da vida quotidiana. Aquele pequeno estímulo para passar o dia, aquele zumbido adicional é preciso concentrar-se, essa atrevida Não fales comigo até eu ter tomado o meu café! que a tia de toda a gente tem no frigorífico. Mas, quer venha sob a forma de um expresso italiano curto e forte ou de meio litro de bebida energética com sabor a framboesa azul, temos novidades para si - a cafeína é uma droga psicoactiva. 

Cafeína vs. Psilocibina

Sim, a maior parte das pessoas não se apercebe que o seu frappuccino de caramelo salgado tem mais em comum com um cogumelo mágico ou uma trufa do que alguma vez imaginaram. Actualmente, uma destas substâncias psicoactivas tem qualidades viciantes e pode ser tóxica em doses elevadas. No entanto, é aceite pelas sociedades de todo o mundo. E a outra é a psilocibina, proveniente das trufas e cogumelos mágicos. Enquanto a cafeína é omnipresente, não causa dependência e não é tóxica, a psilocibina continua a ser estigmatizada. 

Não se trata de uma crítica à cafeína, claro - adoramos um cappuccino numa manhã de sol -, mas sim de uma comparação da forma como diferentes substâncias têm sido tratadas ao longo da história. Como é que uma, que pode ter efeitos negativos significativos, pode estar incorporada em tantas culturas, enquanto outra, com tantos benefícios, foi excluída da sociedade em geral?

Para além disso, abordaremos uma questão que muitas pessoas colocam: É possível combinar psilocibina e cafeína? Esta questão tornou-se pertinente à medida que um número crescente de pessoas está a adicionar microdosagem de psilocibina à sua rotina matinal. E para a maioria das pessoas, as manhãs significam café. 

O que é a cafeína?

A cafeína é o psicoestimulante mais consumido em todo o mundo. A muleta de todos os trabalhadores nas pausas, uma desculpa para pôr a conversa em dia com os amigos, um minuto para si próprio - grande parte das nossas estruturas sociais são construídas à volta do café ou do chá. Em muitos locais, é mais provável que lhe ofereçam uma chávena de café do que um copo de água!

A história do café

As origens do nosso café com leite, tal como o conhecemos, provêm da Etiópia, onde crescem plantas de café selvagens. Estas foram levadas para o sul da Arábia e cultivadas no século XV. Uma das muitas lendas que se centram na "descoberta" do café é a de Kaldi. Kaldi era um pastor de cabras árabe, de cerca de 850 d.C.. Um dia, reparou que o seu rebanho estava a ter um comportamento bizarro depois de se ter alimentado das bagas de um arbusto próximo. Também ele provou as bagas e, depois de sentir ondas de energia e entusiasmo, partilhou a sua descoberta com o mundo. No século XVIII, o café era uma referência mundial. 

O fascínio do café ultrapassa as fronteiras sensoriais. O cheiro rico, o sabor intenso e os efeitos muito físicos são o que experimentamos conscientemente. Mas, tal como acontece com todas as substâncias ricas em cafeína, também há muita coisa a acontecer à superfície. 

Como a cafeína afecta o nosso corpo

A cafeína bloqueia os receptores de adenosina do nosso corpo, o que aumenta os níveis de dopamina, noradrenalina e glutamato. Tem um efeito no nosso sistema nervoso central, bem como no nosso sistema cardiovascular. Estudos demonstraram que pode reduzir os efeitos da demência, como a doença de Alzheimer, numa fase posterior da vida. É também considerado benéfico para cancros como o do pâncreas, da bexiga ou do cólon. 

Mas, embora a cafeína tenha benefícios e, durante muitos anos, tenha sido considerada medicinal, também tem qualidades que a tornam menos do que ideal. 

Os perigos da cafeína

A cafeína pode aumentar o nosso ritmo cardíaco, exacerbar a ansiedade, causar insónias e, em doses elevadas, pode provocar batimentos cardíacos irregulares. Além disso, existe um nível de sobredosagem para a cafeína - o que significa que sim, podes morrer por causa dela. Para além de tudo isto, é viciante. No entanto, muitas pessoas não se apercebem disso até tentarem largar o seu hábito de beber café branco.

Qualquer pessoa que já se tenha esquecido do seu café matinal conhece o arrepio da dor de cabeça da abstinência de cafeína. Afecta os nossos níveis de dopamina, o sistema nervoso e o sistema cardiovascular, razão pela qual é tão difícil desintoxicarmo-nos dela. O guru psicadélico e autor Michael Pollan escreveu um audiolivro inteiro baseado nas suas aventuras de investigação, abandono, desintoxicação e, por fim, recomeço da sua relação com a cafeína - tal é a viagem. Ele escreveu no Guardião;

"Perguntei-me: haveria alguma forma de preservar o poder desta droga? Poderei conceber uma nova relação com a cafeína? Talvez tratá-la mais como um psicadélico - digamos, algo para ser tomado apenas ocasionalmente, e com um maior grau de cerimónia e intenção." 

O que é Psilocybin?

A psilocibina é o ingrediente psicoactivo das trufas mágicas. Em doses elevadas, pode causar viagens psicadélicas com alucinações visuais, auditivas e sensoriais. Tem sido utilizada como instrumento cerimonial ou de cura pelas comunidades indígenas durante séculos. No entanto, foi introduzida no imaginário ocidental na década de 1950. Estudos recentes descobriram que a psilocibina pode ser eficaz no tratamento de muitos problemas de saúde mental. Estas incluem depressão e depressão resistente ao tratamento, perturbações alimentares como a anorexia, problemas de dependência, perturbação de stress pós-traumático (PTSD) e Perturbação obsessivo-compulsiva. Também pode ser aplicado para ajudar a gerir ansiedade e ADHDbem como o aumento da sensação geral de bem-estar e da felicidade quotidiana.

Duas substâncias que alteram a percepção

Assim, temos duas substâncias que ocupam lugares muito diferentes na sociedade. Uma está actualmente profundamente enraizada, a outra está na periferia. Mas há sobreposições entre elas. Ambas alteram os nossos sentidos de percepção, afectam o nosso humor e podem melhorar a cognição. No entanto, a cafeína foi objecto de uma investigação muito aprofundada. O estudo da psilocibina é ainda relativamente recente. Por isso, quando se trata de as combinar, não se sabe muito em concreto... ainda. 

Combinação de psilocibina e cafeína

Neste caso, vamos falar de psilocibina em termos de microdosagem. Esta é a prática de tomar uma dose subperceptual de psilocibina - não para sentir quaisquer efeitos psicadélicos mas para melhorar o humor, a concentração e a criatividade. A microdosagem é provavelmente a utilização da psilocibina mais comparável à chávena de café matinal.

Então, o que acontece quando combinamos a nossa rotina de microdoses com o nosso café matinal? 

Bem, tal como muitas destas questões holísticas e corporais - é bastante subjectivo. Muito do que se sabe sobre a psilocibina em microdoses baseia-se em experiências relatadas pelos próprios. Os nossos corpos existem como um ecossistema individual e só nós sabemos, ou podemos descobrir, o que funciona para nós, especialmente em termos psicadélicos. E em termos de cafeína, a nossa relação com ela também se altera. Muitas pessoas, à medida que envelhecem, descobrem que a sua relação com a cafeína muda, pois esta pode afectar-nos de forma diferente em diferentes fases da nossa vida. 

Mas o que podemos dizer é o seguinte: Muitos pensam que a psilocibina os torna mais alerta. E a cafeína é um estimulante conhecido. Se tiveres tendência para ficar nervoso com qualquer um dos dois, é melhor ter isso em conta antes de os combinares, pois demasiada estimulação pode causar ansiedade em algumas pessoas. Se for este o seu caso, talvez seja melhor não tomar a cafeína no dia da microdosagem.

No entanto, para algumas pessoas, este tipo de estimulação pode ser fundamental para as ajudar a prepararem-se para o dia e a começarem a trabalhar. Há muitas pessoas que apreciam o duplo impulso de uma microdose e de um cappuccino.

Comece devagar, ouça o seu corpo

Muitas pessoas na comunidade de microdosagem tendem a não combinar os dois, pois muitos dizem que os efeitos da psilocibina são mais claros para eles sem cafeína. A chave para saberes o que funciona para ti é experimentares vários métodos e veres qual preferes. Mas começa sempre por baixo! A primeira vez que combinares os dois, talvez comeces com uma chávena de chá - em vez de um expresso duplo!